Chan Si Jin, ou Energia de Enrolar a Seda, é um noção importante no variado léxico do Taijiquan. Embora seja um conceito universal utilizado pela grande maioria das escolas internas, é de substancial importância nos sistemas de Taijiquan, e em particular na escola Chen, que lhe presta especial atenção. Não basta compreender o seu significado, tem que se perceber a sua utilidade prática também. Este conceito tem a sua origem no processo de fiar a seda, que requer uma técnica e um cuidado especial. Explicar este processo poderá ajudar a entender a sua essência, criando uma visualização prática que pode ser de mais fácil transporte para o Taijiquan.
O bicho-da-seda é a larva da borboleta de seda. Estas larvas são criadas e alimentadas até estarem prontas para tecer o seu casulo. Constroem-no torcendo-se, acochando-se, enrolando-se e espiralando-se, até este estar finalizado. Estes casulos são posteriormente recolhidos e colocados em água a ferver, remexidos para o emaranhado de fios amolecer e se soltar. Do casulo sai um único filamento que é puxado por uma roda e finalmente enrolado numa bobine, pronto para ser tecido. Todo este processo envolve algum cuidado e precisão. A extracção deste único filamento que é puxado do casulo, tem que ser uniforme e contínua: demasiado rápido o fio pode romper, demasiado lento, emaranhar.
Inspirado neste processo, Chen Xin* registou no seu famoso livro como esta dinâmica se aplica ao Taijiquan, e chamou-lhe “Energia de Enrolar a Seda”, Chan Si Jin. Se bem que o fundador da escola Chen, Chen Wangting, já havia tocado levemente neste assunto num poema a ele atribuído, embora utilizando uma terminologia diferente, foi Chen Xin quem o consolidou e tornou num dos princípios fundamentais da escola. No seu livro escreve:
Enrolar a Seda é o método para circular a energia interna. Não se será capaz de compreender a arte marcial do Taijiquan, sem entender a Energia de Enrolar a Seda.
Explica ainda que a energia circula não de forma linear, mas em espiral e sobre três dimensões, exactamente como o bicho-da-seda tece o seu casulo. Adiantou que esta circulação é efectuada de maneira fluída e a uma velocidade constante, como o processo de retirar o fio de seda do casulo. Força e movimento constituem assim uma acção espiralada ou helicoidal, que se manifesta sobretudo nas extremidades, onde estas forças criam círculos de rotação para dentro ou para fora, mas que se também aplicam a qualquer outra parte do corpo, braços, pernas, ombros, ancas e cintura. Consiste o método em seis tipos distintos: interno, externo, para cima, para baixo, para a frente e para trás.
Consequentemente, este tipo de movimentação em espiral tornou-se imagem de marca da escola Chen, sendo uma das suas principais características. Embora as restantes escolas de Taijiquan também se refiram a este tipo de energia, não o têm tão aprofundado nem elaborado como a escola Chen. Convém no entanto referir que muitas vezes se assiste a uma má interpretação deste conceito, vendo-se muitas vezes algumas linhagens a exagerar na sua expressão, com um tipo de movimentação que mais se parece a uma convulsão. Esta exteriorização do conceito é, pelo contrário, subtil e despercebida, sendo obviamente uma característica avançada e que requer a orientação de um entendido para a sua compreensão.
A ilustração deste artigo foi retirada do livro de Chen Xin, e exemplifica de forma gráfica como a força energética se move em espiral ao longo do corpo e extremidades. No entanto da teoria à prática vai um longo caminho, que se estabelece com dedicação, persistência e prática, muita prática. Sem prática, não existe Taijiquan…!
* Chen Xin foi provavelmente o mais proeminente e importante intelectual da escola Chen de Taijiquan. Deixou uma obra extensa e complexa, publicada postumamente em 1933, intitulada “Estilo Chen de Taijiquan Ilustrado e Explicado” (Chen Shi Taijiquan Tushuo), e que hoje é considerada a referência da escola Chen.
